No que concerne à atracção de pessoas, empresas ou investimentos, as cidades e as regiões encontram-se, hoje, num cenário de intensidade concorrencial como em qualquer outro mercado. Efectivamente, a deslocação constante de negócios e activos financeiros, a crescente mobilidade profissional e a maior rapidez e transparência e circulação de informação leva a que todos os “intervenientes” sociais (indivíduos, famílias, empresas, fundações, instituições culturais e educativas, entre outros) possam agora tomar opções geográficas antes fechadas à maior parte das populações.
E o que nos traz este novo patamar de competitividade? De uma forma simples, a necessidade de uma cidade (ou região) apostar na sua missão, nos seus factores de atracção e diferenciação, para assumir as rédeas da sua estratégia de desenvolvimento. Neste contexto, o conceito de “cidade criativa”, desenvolvido por Charles Landry, consultor britânico, e Richard Florida, professor da Carnagie Mellon University, já há alguns anos difundido, vem trazer perspectivas e opções baseadas na criatividade e na inovação como factor de crescimento e afirmação dos núcleos urbanos.
A tese é simples: cidades com elevada capacidade de atracção de indivíduos qualificados, que apostem em indústrias e sectores criativos (nas áreas das tecnologias de informação e comunicação, da ciência e da investigação científica, da cultura, das artes, do design, da educação, entre outros) terão maior solidez em termos de crescimento, desenvolvimento e qualidade de vida. Richard Florida defende os 3 T´s (Tecnologia, Talento e Tolerância) como pedras basilares das estratégias de inovação e atracção das cidades. E são fáceis de perceber. Ambientes tolerantes, propícios à diversidade e à multiculturalidade e ambientes vibrantes, com uma boa oferta em termos culturais e de lazer, atraem os segmentos mais jovens e criativos, que produzem inovação e criam valor. Depois, desenrola-se o “efeito dominó”, em cadeia: criam-se clusters e redes de empresas, atraem-se mais pessoas, reanimam-se os centros históricos, alavanca-se o turismo e uma cidade porventura banal torna-se uma cidade excepcional.
Muitos estudos foram já efectuados (ex. nos EUA, em cidades como S.Francisco e Austin) para comprovar aquilo que empiricamente está evidente: a correlação entre ambientes facilitadores da criatividade e os níveis de desenvolvimento das cidades. Naturalmente que este tipo de estratégias pode ser aplicado de forma escalável, tanto a mega-cidades como a cidades médias/ pequenas. Temos aqui ao lado, na nossa vizinha Espanha, um bom exemplo em Barcelona que, fruto do seu património e história recente (é mundialmente conhecida como a cidade de Gaudí) se posiciona como um marca de referência na cultura e arte contemporâneas e, em particular, no design. Em França, temos o emblemático exemplo de Toulouse que, com base na aposta efectuada na indústria aeroespacial, se tornou uma metrópole competitiva inovadora e vibrante.
Será que as cidades portuguesas, com as suas fortes competências distintivas e imensas potencialidades, poderiam começar a desenvolver este pensamento estratégico? Fica o desafio…
Carlos Sezões