
No passado dia 15 de Abril realizou-se na Sala de Conferências do Torreão Poente do Terreiro do Paço, em Lisboa, o primeiro evento público do projecto «Portugal Agora» – a conferência «Portugal Atractivo – Da Estratégia à Acção».
O evento juntou um leque multidisciplicar de oradores, com vista a definir prioridades na atracção de residentes, profissionais, visitantes, empresas e investimentos em Portugal – e debater como estas estratégias se podem articular e reforçar mutuamente.
O primeiro painel contou com a participação de José Ferreira Machado, director da Nova School of Business and Economics, Carlos Neves Martins, ex-secretário de estado do Turismo e especialista em turismo de saúde e bem-estar e do empresário Henrique Neto.
Depois da apresentação do projecto «Portugal Agora», feita pelo seu coordenador Carlos Sezões, o painel sobre «Como competir e atrair num mercado global» teve início com a intervenção de José Ferreira Machado, que começou por fazer notar que o nosso ensino superior é uma poderosa indústria exportadora, «equivalente ao vinho, à cortiça ou ao calçado».
O director da Nova SBE salientou a progressão acentuada dos “estudantes transacionáveis”, ou seja, que estão inscritos fora do seu país de cidadania, particularmente na Europa, graças ao Processo de Bolonha, que considerou como a «moeda única do ensino superior, permitindo ultrapassar o confinamento do mercado nacional». Defendeu o grande potencial do ensino superior na criação de receitas de exportação, com impacto directo na economia, esclarecendo que exportar, neste caso, é importar estudantes.
Sobre como construir um ‘cluster’ exportador do ensino superior, José Ferreira Machado sublinhou a importância da língua de ensino, defendendo que as escolas têm que funcionar em inglês, a importância da reputação das instituições de ensino nacionais e o papel dos rankings, e a cada vez mais diferenciadora experiência global que é percepcionada pelos estudantes. Salientou que «tudo isto são factores de atractividade. O ensino superior em Portugal é barato, é um país seguro e muito atractivo do ponto de vista geográfico, paisagístico e climatérico e social». Considerou que o sucesso desta visão promove simultaneamente a defesa da língua e cultura portuguesa, contrastando com o facto dos cursos serem globalmente lecionados em inglês, pela via da exposição à cultura, à língua, e a todo o contacto com uma vivência em Portugal.
Seguiu-se a intervenção de Carlos Neves Martins, centrada no potencial do turismo de saúde. Acreditando no potencial de Portugal para criar valor na saúde, sustentou o aumento da exportação, salientando que «de 2007 para cá a exportação nesta área quase que triplicou”. Afirmou a excelência nacional, sobretudo dos centros de investigação, na área das Ciências da Vida, e defendeu que a investigação, a indústria e a medicina personalizada devem funcionar em parceria com as escolas e empresas.
Sobre o turismo de saúde, Carlos Neves Martins enunciou quatro pilares: turismo médico, turismo termal, turismo de bem-estar e turismo sénior. «Temos capacidade instalada mas é preciso ter planeamento, fazer uma promoção integrada e educar os recursos humanos para esta mentalidade», realçou. «É preciso identificar as valências dos serviços médicos, formatar os produtos de acordo com as melhores práticas internacionais e fazer ‘branding’ agregador», reiterou. Referiu que a Directiva Europeia sobre os Cuidados de Saúde Transfronteiriços deve ser encarada como uma oportunidade nesta área, e não uma ameaça.
Carlos Neves Martins referiu ainda que o Sistema Nacional de Saúde evoluiu muito nas duas últimas décadas, fazendo notar que Portugal é o único país da União Europeia com quatro formas de prestação de serviços de saúde: público, privado, público-privado e social. Terminou identificando três vias para captar receitas externas: prestação de serviços em território nacional, exportação de bens e serviços como prioridade para negócio em mercados emergentes e de língua portuguesa e o reforço/ alavancamento de políticas sectoriais como o turismo. Defendeu, pois, uma política integrada nacional.
O empresário Henrique Neto começou por partilhar uma tese, baseada em duas ideias: «Nenhum produto, serviço, empresa ou país pode ter sucesso contrariando a realidade; a atractividade de Portugal é prejudicada pela acção do Estado». Na sua opinião, temos um Estado autista e tendencialmente arrogante, considerando grave e ausência da pedagogia pelo exemplo e alertando que só podemos ter sucesso mudando o Estado.
Henrique Neto afirmou que o que temos de melhor no país são as pessoas, salientando ainda que no conjunto temos um país admirável, bem localizado geograficamente e com um rico património histórico e cultural. Defendeu que devemos promover a qualidade, a valorização do espaço, do tempo, da nossa história e cultura, e também aceitar e receber institucionalmente os turistas. «O país tem condições excepcionais, mas precisamos potenciá-las», concluiu.
No segundo painel da tarde, sobre a «Marca Portugal», participaram Cláudia Alves, ‘brand strategy director’ da Brandia Central e Carlos Melo Ribeiro, presidente da Siemens Portugal.
Para Cláudia Alves, a marca de Portugal existe, quer se tenha consciência disso ou não, e as pessoas têm uma ideia sobre ela. Salientou que as marcas têm que ser criadas e geridas, sempre sobre uma base de verdade. «Há uma realidade e é preciso identificá-la. E, no caso de um país, há vários factores que contribuem para a marca que não podem ser mudados, como a localização, e muitas acções são involuntárias ou incontroláveis». Por outro lado, para se trabalhar a marca de um país, é preciso perceber a ideia que se quer transmitir e o que é diferenciador e relevante. E é também preciso ter consciência que é, na origem, um problema político. Cláudia Alves defendeu um acordo transversal a todos os partidos para criar um comité, que subsista às mudanças governamentais, que defina a imagem que se quer transmitir do país.
Já Carlos Melo Ribeiro, realçou que é preciso criar valor acrescentado no país, como na filial que dirige foi preciso criar valor acrescentado para não desaparecer. Acredita que a solução para o país é relativamente fácil, mas reconheceu que a sua implementação é mais difícil, porque «não planeamos, não pensamos a prazo e não há estratégia. É preciso juntar pessoas de boa vontade para pensar uma estratégia para Portugal e juntar esforços», defendeu. É a aposta na diferenciação e em valor acrescentado que proporciona a competitividade. Abordou, em particular, o Turismo como um sector-chave, no qual, com estratégias cirúrgicas, se poderão trazer mais alguns milhões de turistas anualmente.
Finalmente, Pedro Pereira Gonçalves, Secretário de Estado da Inovação, Investimento e Competitividade, que encerrou o evento, falou sobre os factores de diferenciação a considerar nas decisões empresariais. Defendeu que, para o sucesso das empresas, se devem considerar dois tipos de bens e serviços: os de luxo e os correntes. Os correntes são aqueles que se substituem sem grande dificuldade, mesmo que tenham alguma sofisticação; os de luxo são aqueles que tendem a ser mais exclusivos, ou com custos de substituição elevados ou com níveis de complexidade que os tornam de elevado valor (quer por atributos técnicos, de design ou marca). O impacto na economia destes últimos é enorme e as políticas públicas devem ser focadas e apontar conscientemente para estas dinâmicas. Acentuou ainda o papel do Estado na definição dos incentivos mais adequados para as decisões empresariais (ex. bens transacionáveis vs. infra-estruturas).