O nicho estratégico da Realidade Virtual e Aumentada em Portugal

Uma das mensagens que melhor passa internacionalmente é a da relação valor/preço dos técnicos portugueses. Temos dos melhores programadores do mundo, atitude profissional, gosto por ambientes desafiantes e multi-culturais. A presença do Web Summit, o numero crescente de Centros de Competência tecnológicos e até Resoluções do Conselho de Ministros como a Incode2030 são sinais de que apostamos nesta estratégia de atração de investimento e de emprego qualificado.

Este modelo de desenvolvimento mantém-se praticamente da mesma forma que todos os outros: promovendo o aumento sustentado da procura e a manutenção de oferta de qualidade. Ora o que venho hoje partilhar convosco são as evidências que apontam o mercado da Realidade Virtual/Aumentada (RV/RA) como estratégico neste objetivo.

No passado Fevereiro, foi lançada a primeira versão do Ecossistema de Realidade Virtual e Aumentada em Portugal, criada pela VRARA (Virtual Reality and Augmented Reality Organization). A principal revelação desse breve report foi a existência de mais de 50 PME’s a trabalharem Realidade Aumentada e Virtual em Portugal, um numero excecional dado o tamanho do nosso mercado e o potencial de exportação nearshore destes serviços. Esse número, acompanhado de mais de 20 Universidades, Centros de Investigação, Centros de Formação e comunidades espontâneas a discutirem estes temas denotam o interesse social em desenvolvermos competências nesta área.

O impacto na economia real deste setor pode ser grande, dado que cada projeto (especialmente em Realidade Aumentada) implica competências complementares – 3D, vídeo, programação mobile, desenvolvimento web, UI/UX, integração, cloud hosting, data science. Ou seja, estes projetos não exigem apenas profissionais que saibam comunicar, mas sim equipas habituadas a este nível de complexidade.

Temos hoje a oportunidade de criarmos condições para o boom deste emprego qualificado com equipas em nearshore, centros de competência especializados ou startups enérgicas num cluster prestes a explodir. Esta oportunidade já foi identificada no continente americano por Vancouver e temos em Londres exemplos dos valores de investimento associados a esta industria. Hoje é um nicho, amanhã tem um potencial decluster.

Este fôlego só se manterá enquanto a oferta de técnicos especializados acompanhar a procura. Hoje e noutras áreas tecnológicas, muitos dos mestres em inicio de carreira são já aliciados com contratos e benefícios crescentes – são as consequências do aumento da procura que, se tudo correr bem, não vai parar. Então, qual a solução quando as universidades, politécnicos e centros de qualificação não conseguem acompanhar a procura?

Eu sugiro o mercado brasileiro.

Repleto de bons profissionais com afinidade cultural e interesse socioeconómico no nosso país, o Brasil pode ser a fonte de talento que Portugal precisa para continuar a dar resposta à procura constante destas competências – especificamente competências nas áreas da Realidade Virtual e Aumentada.

Já começamos a ver mais profissionais brasileiros no nosso mercado, que se aventuraram neste mercado e estão disponíveis cá para serem recrutados. Ora, muito embora esta vontade inicial de trabalhar no nosso mercado possa ser confundida com um critério de seleção só por si, a verdade é que a maior parte do talento brasileiro interessante e interessado em RV/RA ainda se encontra no Brasil. Logo, é no Brasil que importa captar talento, junto de entidades que promovam a contratação direta de profissionais. Este é um tema que importa ser apoiado por todos nós, inclusivamente por todos os atores sociopolíticos deste país, pois contribui diretamente para o desenvolvimento socioeconómico do País.

A Realidade Virtual e a Realidade Aumentada, onde já temos estas competências transformadoras da sociedade e um ecossistema gerado autonomamente, é uma área onde poderemos mais rapidamente colher frutos das nossas competências no Mercado Europeu. É esta a oportunidade que temos hoje – vamos aproveitá-la.

Luís Bravo Martins,

Head of Marketing da IT People e autor do livro “A Realidade morreu. Viva a Realidade Aumentada”