A globalização da economia nunca esteve tão forte e ao mesmo tempo tão em causa como nos dias de hoje. Vivemos neste final de 2019 uma época conturbada de guerras comerciais entre continentes, lideres mundiais a medirem forças nacionalistas, ou ameaças de um Brexit de consequências ainda desconhecidas, tudo ingredientes de um cocktail explosivo que se pode tornar destruidor dos valores fundadores dos tratados de comércio livre internacional ou do próprio tratado de Roma, base da Comunidade Europeia.
Portugal e os portugueses que fazem viver a nossa cultura e o nosso conhecimento por esse mundo fora, podemos potenciar a nossa força e experiência nesta fase conturbada não só a nível económico, mas a nível social e político. Somos mediadores natos e reconhecidos, onde o expoente máximo atualmente se personaliza na pessoa de António Guterres, no seu papel de líder na ONU, e uma grande legitimidade dada pela nossa história, fazem de Portugal um ator que deve afirmar os seus pontos fortes ao serviço do desenvolvimento humano no mundo.
Desde os descobrimentos que o nosso ADN luso de abertura além-fronteiras está bem presente na nossa maneira de encarar a vida. Não estarei a exagerar se disser que somos dos maiores embaixadores da diversidade e adaptação no mundo ocidental.
Os portugueses sempre tiveram um papel preponderante nesta economia de transferência de pessoas e a nossa diplomacia e saber partilhado na Europa e mesmo a nível mundial. A mais antiga aliança mundial entre países, entre Portugal e a Inglaterra, é um bom exemplo.
E hoje mais que nunca existem verdadeiros polos de conhecimento e experiência, cidades “portuguesas” por essa Europa fora que interessa analisar e discutir no sentido de potenciar e alavancar este envolvimento em prol do desenvolvimento da nossa economia, dentro e fora de Portugal.
A diplomacia “informal” dos nossos quadros portugueses no estrangeiro sempre alimentou esse elo comum da portugalidade da nossa maneira de fazer. Seja pelo nosso orgulho de feitos desportivos, a nossa gastronomia, a arte e cultura, sempre tivemos e temos motivos de orgulho da nossa portugalidade.
Se de um modo ágil, ajudado pelas redes sociais e facilidade que as tecnologias de comunicação nos permitem hoje, conseguirmos federar essa comunidade em torno de um desígnio nacional de desenvolvimento e engrandecimento da imagem do nosso Portugal, teremos todos a ganhar e seremos grandes contribuintes para as gerações futuras de portugueses que não percebem as fronteiras físicas, nem as vivem, como nós as pudemos viver no passado.
A riqueza e presença da nossa língua, a qualidade do nosso capital humano espalhado pelo mundo, pode e deve ser referenciado, e quem mais que os portugueses que vivem no estrangeiro para poder dar esse testemunho e se federar em torno de um capital de pertença que interessa fazer viver. E somos muitos, talvez demasiados discretos à data de hoje, mas influentes, e muitos ativos na economia dos países onde se estabeleceram.
E a ligação entre os portugueses no estrangeiro e os grandes temas discutidos em Portugal deve ser patrocinada e sustentada dentro do nosso país para que a atualidade e pertinência dos temas esteja sempre presente. Precisamos de todos, da direita à esquerda do nosso espectro político, mulheres e homens com vontade de participar ativamente e de partilhar o seu valor ao serviço da comunidade portuguesa.
Eu digo presente, quero participar nesta aventura. Emigrante desde 2008, mas a trabalhar em projetos internacionais em vários países europeus e norte de Africa há mais de 20 anos, sinto essa necessidade e a oportunidade que o momento atual nos dá. Sempre fui testemunha da força da nossa comunidade em cada país por onde passei.
O momento é agora.
Carlos Fontelas de Carvalho, Gestor